A história de Nhua, a Severa..

Angelo Beolco (1501-1542), actor e dramaturgo italiano, também conhecido como O Ruzzante, criou várias personagens nas suas peças onde também participava como protagonista. Numa dessas peças, precisamente n' O Parlatório de Ruzzante de Volta da Guerra, cria Nhua, de inicio uma moça do campo, namorada de Ruzzante, pelo menos até ao dia de ele ir para a Guerra.

Aquando do seu regresso, muitas coisas tinham mudado, a guerra faz destas coisas. Quando chega à sua cidade, encontra o seu grande amigo Menato, tolo e folião, a quem conta as suas desventuras da guerra. Claro, sempre omitindo os factos vergonhosos e enaltecendo as corajosas fugas.

É pois no fim dessa conversa de reencontro, que Menato lhe informa que também a mudança passara por Nhua, outrora doce rapariga, agora mulher da vida, que ganhava o seu sutento vendendo a companhia com homens abastados.

Ruzzante vai então ao encontro de Nhua, que dificilmente o reconhece, tão escanzelado e com uma tromba, apercebe-se que ele volta sem nada para lhe oferecer, pelo o que já não lhe interessava ter aquele Ruzzante à perna. Amor? Claro que sentira Amor, mas o amor não enche a barriga!

Mas Ruzzante não desiste à toa, vai atrás dela, e Nhua sentindo-se ameaçada, atira-lhe à cara todas as promessas que ele tinha feito de ir e voltar em riqueza, mas ao contrário, foi como um poltrão e voltou como um poltrão, prometeu-lhe que ganhava ou morria e voltou como se vê. Não era que ela quisesse que ele tivesse voltado aleijado, mas assim, sem ferimentos, não podia acreditar que ele estivera na guerra.

Ruzzante farto de ouvir estas barbaridades e vendo que com falinhas mansas já não iria conseguir nada, atira-se a ela e puxa-la pelo braço, numa tentativa de a levar consigo, mas ela afoita consegue livrar-se e, a tempo, chega o seu marinheiro que dá umas valentes pancadas em Ruzzante. Saindo depois de braço dado com a severa Nhua.

Eis a verdadeira história de Nhua...