Dois meses depois...

... e alguns ensaios depois, re-estreámos o Memorial do Convento.. Dois espectáculos logo no primeiro dia de trabalho que é para começar a aquecer os motores para esta nova temporada. Ficaremos em cena até Junho de 2008 e, pelas nossas contas, até lá terão assistido, mais coisa menos coisa, 20 mil pessoas, a maior parte das quais serão jovens do 12º ano, de todos os cantos do país.

Hoje, recebemos alunos do Norte, infelizmente nem sempre ficamos a saber de onde são realmente. Foram divididos em duas turmas, de manhã uma turma via a peça e a outra visitava o Palácio de Mafra, à tarde trocavam. Foram excelentes espectadores, devo dizer, por vezes iremos apanhar (como já apanhámos) alunos que não se sabem comportar durante uma peça de teatro, nem tão pouco têm respeito por quem está a falar, neste caso, os actores. Mas os de hoje portaram-se bastante bem!

Sem falsas modéstias, posso dizer que os espectáculos correram muito bem! O da manhã um pouco sem ritmo, mas o da tarde foi excelente em termos de ritmo. De resto.. bom há sempre uma coisa ou outra que falha...

É engraçado reparar que com o passar do tempo, os cinco actores deste Memorial cada vez se entendem melhor em palco. A cumplicidade cresce, apesar de termos estado parados. O que me faz pensar que essa cumplicidade entre actores em palco, também é alimentada fora dele.

Para quem não sabe do que estou a falar, ou porque nunca fez teatro, ou porque nunca a sentiu, a cumplicidade que falo, é aquela que nasce entre actores que trabalham muito tempo, ou muitas vezes juntos. O actor é nada, sem a sua contracena. E quando há bastante cumplicidade, há uma entrega ao outro, uma comunicação com o olhar.

Hoje, por exemplo, num dado momento o Padre Bartolomeu (Flávio Tomé) interrompe a Blimunda (eu própria) antes do tempo, cortando assim uma fala dela, ela(eu) olha-o nos olhos, como a dizer ainda vou dizer a frase, o Padre parece que se apercebeu, porque suspendeu a deixa a meio, antes da resposta ao que ela(eu) não tinha dito. Ela aproveita a suspensão e diz a deixa, ao que ele responde prontamente.

Foi o que eu costumo chamar de magia de palco, quando algo corre tão bem, é tão perfeito, que chegamos a sentir o Grande Espirito do Teatro ali a vigiar-nos. É quase um orgasmo tântrico... em que nos esquecemos quem somos, onde estamos, que temos cem pessoas (ou mais, ou menos) a olhar para nós. Somos aquela personagem! E aquele que está à nossa frente é realmente um padre, ou um maneta ou um Rei.. enfim.. You Got The Point!

Concluindo, hoje foi um dia de Magia no Palco, o Grande Espirito esteve lá connosco! Cada vez gosto mais de viajar naquela orgânica sonora, que é a música do David, de ouvir o Padre(Flávio Tomé) nos seus sermões e ideias de voar, de ouvir as megalómanias do D.João V(Filipe Araújo), de ouvir a história do Manuel Milho(João Mais), e de ver o encontro do Baltasar com o Pai(João Mais) , de revelar quem sou ao Baltasar(Paulo C. Reis), de seguir viagem numa passarola voadora, com os meus dois companheiros de aventura, o Padre Bartolomeu de Gusmão(Flávio Tomé) e o Baltasar, Sete-Sóis(Paulo C. Reis) (Bartô e Babar, prós amigos) com quem mais tem crescido a tal cumplicidade, e de estar na pele desta mulher, desta Blimunda, que é dura, doce, forte e feminina..

Vão ver!

:p

foto by Margarida Martins - TNDM II 2007